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CIRCUITO CARAVAGGIO

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A Piazza Sant’Eustachio é um bom lugar para começar ou terminar um passeio muito especial, que é um mini circuito Caravaggio. 

Um dos cafés mais famosos de Roma fica na Piazza Sant’Eustachio, que a gente reconhece pelo veadinho no cocuruto da igreja do mesmo nome, perto do Pantheon. O Café Sant’Eustachio tem misturas do mundo todo, e naquela pracinha romana, até o Brasil soa exótico e saboroso. A atmosfera é única: atrás do balcão tem um painel decorativo da década de cinqüenta, todo feito de grãos de café; e os garçons costumam ter bigodinho. Merece bem uma visita.

Caravaggio foi um grande pintor do barroco. Talvez o maior. E como todo bom artista, era uma personalidade dificílima, vivia se metendo em confusão, até terminar seus dias no exílio, fugindo da justiça romana por ter, em uma briga de rua, acidentalmente matado um rapazinho. Grande frequentador do baixo mundo, retratava em estilo hiper-realista santos e histórias religiosas com pessoas que pegava na rua, o populacho de Roma.  Perto da Piazza Sant’Eustachio tem duas igrejas com obras dele. 

igreja san luigi dei francesi

A primeira é a igreja San Luigi dei Francesi, onde está a Capela Contarelli, dedicada a São Mateus Evangelista, com três grandes telas. São Mateus era um coletor de impostos que receveu o chamado de Jesus, se tornou evangelista e um grande disseminador de sua palavra. Acabou martirizado na Etiópia, pelo que dizem defendendo Santa Efigênia. O primeiro quadro é a vocação de São Mateus, que estava numa mesa acho que com outros coletores de impostos, num ambiente semelhante a uma taverna, quando Jesus chega para instá-lo a se converter. Jesus é uma figura entrevista na sombra do grande quadro, bem no canto, à direita, mas como é intensa a sua expressão! Aponta imperioso para o Santo, que, coitado, faz aquele gesto clássico de “quem, eu?”. 

O quadro do meio, que retrata São Mateus e o anjo, é de uma simplicidade comovente, e acentua a fragilidade veneranda do santo, empenhado em escrever o seu evangelho. Uma tela de sombras, contrastando com o laranja brilhante da roupa de São Mateus. 

 

E finalmente, o martírio de São Mateus, que retrata o instante antes do golpe fatal, as figuras todas com gestos suspensos, o menininho fugindo, olhando horrorizado a carnificina que está prestes a começar, o anjo estendendo do céu a palma do martírio.

O Caravaggio se auto retrata no Martírio, uma figura saindo da sombra, ou quem sabe fugindo dela, mas lançando um olhar meio enigmático sobre a cena:

Detalhe interessante é que as três telas foram feitas para aquele ambiente, onde permanecem até hoje, e Caravaggio tomou o cuidado de pintar as figuras como se estivessem iluminadas pela janela real, no alto à esquerda.

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Igreja de Santo Agostinho

Uns três ou quatro quarteirões adiante, descendo a Via della Dogana Vecchia, que depois se transforma em Via Della Scrofa, está a igreja de Santo Agostinho, com a Madonna dei Pellegrini. Eu não vou dizer que é maior obra do Caravaggio, mas certamente uma das mais significativas porque retrata de modo muito evidente a inspiração que ele derivava do cotidiano romano. A Madonna é uma bela italiana chamada Lena, famosa prostituta que operava na Piazza Navona, e que foi muito retratada por Caravaggio.

 

Ela se encosta displicente no batente da casa, com o menino Jesus já bem grandinho encaixado na cintura e olha meio triste, meio distante, para o casal de camponeses peregrinos ajoelhados aos seus pés. Pés que aliás, estão bem sujos, de quem anda descalço na rua. Foi um escândalo. Os monges que tinham encomendado o quadro acharam aquilo tudo uma heresia, não queriam pagar, se sentiram enganados, uma loucura. No entanto, quase quinhentos anos depois, lá está ela encantando multidões.

Basílica de Santa maria del Popolo

Para ver outros dois famosos Caravaggio dos que estão em igrejas romanas, é preciso caminhar um pouco, até a Piazza del Popolo.

 

É na basílica de Santa Maria del Popolo que podemos apreciar essas obras. A igreja, embora grande e imponente, pode passar meio desapercebida por estar meio de lado colada na porta que abre os muros da cidade sobre a Via Flamínia. As duas vistosas igrejas irmãs que ladeiam a Via del Corso ao desembocar na praça podem confundir o visitante..

 

Os dois quadros foram uma encomenda para a capela funerária de Tiberio Cerasi, tesoureiro do Papa, e retratam a Crucificação de São Pedro e a Conversão de São Paulo. Dizem que São Pedro pediu para ser crucificado de cabeça para baixo por não se considerar digno de sê-lo da mesma forma que Jesus. O quadro retrata o momento que os carrascos estão empregando uma força enorme para levantar a cruz, na qual está pregado um velho que observa tudo com um semblante entre resignado e preocupado com a aparente inépcia dos seus algozes. 

 

São Paulo estava a Caminho de Damasco quando ficou cego, caiu do cavalo e teve uma visão de Jesus – não sei em que ordem. Mas o fato é que ele se converteu ao cristianismo e foi o maior disseminador da palavra de Jesus. Caravaggio retratou São Paulo no momento exato da queda quase sendo esmagado pelo cavalo. Interessante que o santo parece ser o detalhe, no quadro dominado pelo cavalo.

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